Wildlife

#9YearsBeingWild – Bons jogos vão muito além de imagens bonitas

jun 16, 2020 7 MIN LEITURA Julia Bax

Julia Bax foi uma das primeiras artistas a chegar na Wildlife, em 2012. Ela conta como nossos desafios artísticos mudaram desde então.


 

Este artigo é parte de um projeto de conteúdo que celebra os nove anos da Wildlife, compartilhando histórias inspiradoras de Wilders que ajudaram a criar nossa empresa. #9YearsBeingWild

Desenho e histórias em quadrinhos sempre fizeram parte da minha vida. Na adolescência, morando em uma cidade do interior (São José dos Campos Bernardo do Campo, SP), não conhecia ninguém que fizesse isso profissionalmente, então nem chegava a pensar que pudesse se tornar uma carreira. Ainda mais que poderia me trazer até a Wildlife.

Quando vim fazer faculdade em São Paulo, me matriculei, sem compromisso, em um curso de desenho na Quanta, uma escola de artes bastante conhecida. Ali, um mundo de oportunidades começou a se abrir para mim. Foi onde conheci ilustradores, quadrinistas, cartunistas, animadores, diversos artistas que me mostraram que, sim, era possível viver aquela paixão como trabalho.

Segui neste meio e então, ao concluir a faculdade de Economia, já estava trabalhando com quadrinhos e ilustração editorial como freelancer para jornais, livros e revistas. Não demorou muito, ainda que tenha exigido foco e esforço, para começar a publicar nos Estados Unidos e, depois, na Europa, onde fui morar por dois anos e meio. Era 2009 e acabei indo viver na França, onde publiquei dois álbuns por uma editora importante, a Le Lombard. Passei um tempo também na Alemanha. E devo dizer: o mercado europeu é bastante diferente do brasileiro, muito maduro, então foi de onde tirei muito aprendizado.

Depois desta experiência lá fora, voltei ao Brasil com muita bagagem e comecei a dar aula na Quanta. Até o dia em que o Victor Lazarte foi lá me procurar e convencer a trabalhar na, então, Top Free Games. Ele e o Arthur, seu irmão e sócio, buscavam um profissional que tivesse um trabalho mais consolidado na área artística, por isso alguém me indicou – ainda que minha experiência com games fosse somente como jogadora.

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COMEÇANDO O JOGO

Naquela época, o Victor já era um ótimo vendedor de sua super ideia de criar uma empresa brasileira de games que fosse gigante. Sim, era um desafio ousado – ele soube mostrar que era um risco que valeria a pena. Essa conversa aconteceu em 2012, e foi assim que me juntei ao time da Wildlife.

Agora, imagina: se hoje ainda é difícil contratar artistas, naquela época era ainda mais comum buscar profissionais de outras áreas, que tivessem domínio de narrativa, criação conceitual, questões semelhantes ao universo dos jogos. Por isso, no começo éramos um monte de gente que não tinha experiência com games, mas outras mídias de entretenimento, como quadrinhos e animação. Para muitos, na verdade, era o primeiro emprego.

Neste começo, a empresa eram 14 funcionários em um escritório bem pequenininho, com um pessoal muito legal, mas que não dava para ter certeza onde ia dar.

WORLD-CLASS VISUALS

O que era um grupo de iniciantes foi mudando de cara com as contratações de profissionais experientes que, ainda que não tivessem propriamente a experiência de jogos, já trabalhavam como quadrinistas, storyboarders, animadores. O investimento na área de arte trouxe um imenso salto na qualidade técnica e visual dos lançamentos. Isso foi a primeira evolução, mas depois, chegaram também diretores de arte, como o Eduardo Schaal, para gerir a equipe e melhorar a organização do todo.

O departamento, então, passou de 10 pessoas, para 20, e hoje somos mais de 50 artistas divididos em squads. O aprendizado sobre o mercado de jogos mesmo foi algo que aconteceu em conjunto na empresa inteira, dos artistas até engenheiros.

No começo não havia especialização, todo mundo fazia um pouco de tudo. Com a chegada de profissionais mais seniores, fomos construindo departamentos. A definição do game design, por exemplo, é mais recente. Isso permitiu liberar as pessoas da visão do jogo para focar na arte conceitual. O Joshua Singh e o André Forni também chegaram para trazer uma unidade nos projetos, para que a arte do jogo faça sentido e não seja somente uma coleção de imagens bonitas.

A FAÍSCA DO ZOOBA

O Zooba foi um dos primeiros jogos lançados nesse outro patamar de qualidade, o que coincidiu justamente com a entrada do André Forni.

O engraçado é que foi um projeto que começou de forma bem espontânea – o Marco Furtado iniciou uma troca de pinturas de como era a visão dele dos personagens do Zooba. Eu e o Forni entramos na brincadeira, e no fim, ali no meio de um desenho do Forni, estava um personagem com a cabeça enorme, que se tornou o estilo do Zooba. Essa característica visual única, que ajuda a ver a expressão do personagem dentro do jogo, criou uma identidade interessante para trabalharmos com esses “animais cabeçudos”.

Até hoje essa espontaneidade continua sendo a faísca das novidades que colocamos no jogo. No Zooba, criamos personagens novos o tempo todo e praticamente a cada mês lançamos algo diferente. Quando criamos os skins, pela primeira vez trabalhamos com algo que não tem uma vantagem tática no jogo, mas que os jogadores gostam, porque é uma possibilidade de se expressar visualmente, de desenvolver uma identidade própria dentro daquele universo.

Uma coisa muito gratificante do Zooba é poder ver as pessoas curtindo e dando vida aos personagens e à história que você criou. Como é um jogo acessível, vejo de perto minhas sobrinhas e meu irmão jogando, comentando. Mas também tem os canais no YouTube, onde garotinhos mostram suas jogadas e chamam os animais pelos nomes próprios. Também vejo muita fan art por aí. Isso é muito divertido e emocionante!

Wildlife_Zooba_selfie

UM DESAFIO DELICIOSO DE FAZER PARTE

Crescer, assim como na vida, tem suas dificuldades. O importante é reconhecermos nossas forças e fraquezas. A Wildlife é informal, ágil na solução de problemas, transparente, mas claro que, com um time maior, precisamos ter mais regras para que todos possam estar na mesma página. Antes de chegarmos aos 100 funcionários, todo mundo se conhecia, se chamava pelo nome, sabia o que cada um fazia, havia uma convivência. Hoje, o trabalho de manutenção de uma cultura mais próxima é nos squads de cada jogo. Cada um tem uma identidade própria, mas sem deixar de fazer parte do todo, de ter o mesmo mindset como empresa.

Na Wildlife, é impressionante como toda vez que a gente diz que vai fazer alguma coisa, isso se torna possível. As pessoas se comprometem a pensar grande e isso foi algo que absorvi na minha própria visão de mundo. Se alguém já fez, então por que aquilo não é para mim? Só se eu não quiser de verdade.

A ousadia do pessoal da liderança não permite que exista o impossível – se uma temos uma meta grandiosa, vamos dividindo em objetivos menores, aproveitando a qualidade do time para ir fazendo acontecer, até chegar onde desejamos. Isso não significa fugir da realidade, mas encarar cada desafio sem medo, em vez de se auto-impor limites.

Hoje eu penso: “Ainda bem que resolvi arriscar!”. Porque a cada ano que passa, é como se vivesse uma nova temporada, e elas são cada vez mais emocionantes.

 

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