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Curiosidade, estudo e networking: os caminhos para ser uma Game Developer

abr 15, 2021 7 MIN LEITURA Juliana Protásio

Daniella Angelos, Game Engineer na Wildlife, dá dicas para quem quer se aventurar na área de criação e desenvolvimento de jogos.

 

O fascínio pela Matemática no Ensino Médio e pela Ciência da Computação na faculdade trouxeram um caminho natural para Daniella Angelos seguir em sua carreira, que desde outubro de 2020 a posicionou como uma das Desenvolvedoras de Games na Wildlife. 

Apaixonada por Ciências Exatas e, especificamente, pelas linhas de código, ela investe na constante busca pelo conhecimento para programar cada vez melhor, além de abrir o caminho para mais mulheres abraçarem carreiras na Tecnologia.

Conhecer bem a teoria para desenvolver aplicações práticas é algo que desde cedo move Daniella. Ao entrar na faculdade, ela ficou encantada com a relação entre Matemática e Programação, logo se interessando pela Teoria da Computação.

“Aquilo foi me levando para o campo da pesquisa. Fui monitora, dava aulas, terminei meu Mestrado, mas chegou uma hora em que queria trabalhar com algo que tivesse uma aplicação mais direta e dentro da realidade”, recorda.

Assim, antes mesmo de concluir o Mestrado, migrou do meio acadêmico para o mercado, assumindo uma vaga de engenheira de software em uma empresa de tecnologia em Brasília, cidade onde vive. “Admito que a boa remuneração teve um peso na minha decisão, porque as vagas em tecnologia estão cada vez mais valorizadas no mercado. Mas também achei um desafio divertido”, conta Daniella, que naquela época trabalhava diretamente com o maior  cliente da empresa, uma multinacional com muita relevância no mercado, onde teve oportunidade de usar  bastante suas habilidades matemáticas e de  desenvolvimento de software durante o dia a dia.

Apesar de o caminho que levou Daniella até começar a trabalhar como Engenheira de Software no mercado de trabalho ter passado por uma formação acadêmica, ela ressalta que existem diversos outros caminhos que podem te levar pro mesmo lugar. “Tenho colegas incríveis que nunca pisaram em uma universidade. Você pode encontrar o melhor caminho pra você.”

MULHERES NAS CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

No meio de 2020, Daniella foi contactada para participar de um processo seletivo na Wildlife. Para sua surpresa, ela havia sido recomendada por um colega em uma feira de indicações, cujo objetivo era ampliar a presença de mulheres no mercado de tecnologia e criar espaços seguros para elas dentro das empresas. Como engenheira de software, Daniella sabe muito bem a importância disso.

Como mulher em uma indústria ainda majoritariamente ocupada por homens, Daniella revela que passou por maus bocados, enfrentando piadas de mau gosto, por exemplo, desde a faculdade – algumas, inclusive, partindo de professores. Logo nos primeiros semestres, um deles fez questão de constrangê-la em sala de aula, o que a fez trancar a matéria e passar o resto do curso evitando suas aulas. “Também é muito comum sentirmos que não nos é dado o crédito ou a confiança devidos. E perdemos as contas de quantas vezes temos que ouvir que não pertencemos a esse meio.”

Segundo ela, é o tipo de manobra que muitas vezes leva garotas a simplesmente desistirem do curso e, consequentemente, de carreiras nas Ciências Exatas e Tecnologia. “As piadas e o preconceito não precisavam ser diretamente comigo para incomodar, por isso parei de tolerar atitudes machistas e passei a confrontá-las. Isto me fez ser vista como chata por alguns, inclusive por outras colegas, que aturavam esse tipo de comportamento na tentativa de se enturmar com a maioria”, ela comenta. 

Para ampliar sua voz, Daniella participou de eventos e ações que apoiassem a inclusão de mulheres em carreiras de tecnologia, inclusive incentivando meninas de escolas públicas a conhecerem o setor. Ainda que tenha chegado a se sentir desmotivada em alguns momentos, Daniella não apenas não desistiu, como também fez questão de se posicionar como alguém que sabe o que está fazendo.

É por isso que ela acredita tanto no trabalho do Women++, grupo dedicado a promover a equidade de gênero na Wildlife.

“O grupo tem um papel fundamental na mentoria de progressão de carreira inclusive dentro da própria companhia, afinal, ver mulheres em papéis de liderança é algo muito inspirador. Ali se estabelece um espaço de confiança também para conversar sobre as questões que nos afetam fora do mercado de trabalho”. 

ESTUDO COMO PRÁTICA DO DIA A DIA

Se na infância os videogames eram presentes nos momentos de diversão junto com a irmã, após a faculdade o interesse pelos jogos ressurgiu não só como lazer e tema de conversa entre os colegas, mas como oportunidade de carreira. O desenvolvimento de games exige habilidades comuns a outras áreas de desenvolvimento, como dominar uma linguagem de programação, conhecimento sobre arquitetura de software, bancos de dados, algoritmos, estrutura de dados entre alguns outros.. No entanto, Daniella ressalta que é importante também ter curiosidade de aprender como as coisas funcionam e buscar aplicar o raciocínio lógico no dia a dia. “No fundo, no fundo, tudo é lógica”, diz.

Por isso, é importante reforçar a ideia do aprendizado constante. Como? Segundo Daniella, o melhor caminho para aprender é “devorar” tutoriais, ler livros que tenham uma linguagem amigável para você, sempre consultar a documentação oficial das tecnologias  e também fazer parte das comunidades, onde outros desenvolvedores compartilham seus achados e dúvidas. Encontre posts em blogs, vídeos no YouTube ou podcasts que te ajudem a entender desde conceitos mais específicos até ideias mais gerais. 

Mas a parte mais crucial do aprendizado é a prática. É praticamente impossível reter todo esse conhecimento sem praticá-lo constantemente. “Você tem que escrever código! Escreva junto com os tutoriais, escreva pequenos trechos de código para testar ideias. Continue escrevendo. E nunca hesite em pedir ajuda. A ajuda é essencial, porque é importante reconhecermos que existem obstáculos que são muito difíceis de superarmos sozinhos.” Atualmente, ela estuda profundamente o Unity, a engine usada no desenvolvimento dos jogos da Wildlife. 

Além disso, Daniella também dá uma dica para quem pensa em seguir essa carreira: o networking.

“Faça contatos! Hoje não faz mais sentido aquela imagem da pessoa programadora isolada, introspectiva. Profissionais formam comunidades ativas e bastante dispostas a trocar conhecimento, com boa vontade e disponibilidade para ajudar. Além disso, é uma área em expansão, sempre em busca de talentos e que oferece uma remuneração acima da média”.

Para a desenvolvedora, também é importante ter a vivência dos jogos, o que ajuda a entender os mecanismos e a dinâmica com o público. “É bom saber o que é o loop principal, bem como conhecer termos como “meta-game”, “freemium” e outros conceitos da indústria. Há também uma preocupação grande com o usuário final, que fornece feedback imediato, mas que também tem um vínculo muito frágil, que precisa ser permanentemente alimentado para gerar interesse. 

Na visão de Daniella, isso explica a necessidade de se corrigir erros rapidamente, pois cada falha tem impacto no engajamento e, em um mercado tão ágil, isto afeta também resultados de negócio: “por exemplo, um jogo quebrado, mesmo que por um breve período de tempo, pode perder jogadores pra sempre muito rápido”, ela comenta.

É uma visão de quem realmente está por dentro do assunto – ela trabalha no Zooba, que por acaso é seu jogo mobile favorito, mas também um dos jogos de alto engajamento e maior evidência atualmente na companhia. O time de Daniella trabalhou na renovação da funcionalidade de clã, que permite formação de equipes, conversar dentro do jogo e ajudar uns aos outros, viabilizando uma maneira de reunir amigos para jogar. 

“Fico feliz em contribuir com o Zooba, ver as pessoas jogando e elogiando. Gosto de receber até as críticas mais duras, porque elas mostram a relevância do que estamos realizando”, comemora.

Wildlife abr 15, 2021 Juliana Protásio