Como rir nos ajuda reduzir as distâncias na pandemia
jun 02, 2020 8 MIN LEITURA
Working From Home na Wildlife: usando a criatividade, Luiz Piccini diverte seus colegas e mostra que, em tempos de isolamento social, humor é indispensável.
Para Luiz Piccini, Product Manager do Tennis Clash na Wildlife, os dois minutos iniciais de uma reunião de trabalho são fundamentais para determinar o tom da conversa. “É o momento de falar sobre amenidades enquanto os outros participantes chegam. É o famoso ‘quebrar o gelo'”, diz.
No atual isolamento social, com as reuniões presenciais substituídas pelos encontros virtuais, Piccini elevou essa “quebra de gelo” a outro patamar e se tornou uma verdadeira celebridade, dentro e fora da Wildlife. Além da pauta do dia, outro pensamento ocupa as cabeças das pessoas que participam das videoconferências: o que será que o Piccini vai aprontar hoje??
Desde encontros entre desenvolvedores e artistas até alinhamentos mais amplos, com toda a empresa, as reuniões na Wildlife cumprem papel importante.
WORK FROM HOME: UMA NOVIDADE PARA WILDERS
“Atuar de forma remota era algo raro na Wildlife. Como norma, o nosso trabalho sempre foi presencial. Nossa equipe hoje tem sete pessoas, que era reunida numa mesma sala. A troca de ideias era constante, bastava cutucar o colega”, conta Piccini. Com escritórios pensados para garantir aconchego, foco e, ao mesmo tempo, favorecer o diálogo entre os membros da equipe, a necessidade do trabalho em casa exigiu adaptações.
Piccini conta que, desde o início, propôs que o time tentasse ao máximo conservar seus rituais. O stand up diário para alinhamento das tarefas, realizado às 11h, foi apenas transferido para o Zoom. Para tentar manter o time unido e ciente do trabalho que cada um realiza, foi criada uma reunião de touchpoint no final do dia. “Como não estamos nos vendo o tempo todo, essa conversa para fechar o dia é importante para identificar o andamento das tarefas e reverter gargalos”, diz.
Contudo, a grande preocupação de Piccini neste período tem sido com a garantia do bem-estar do time..
“Em um contexto desses, é fácil perdermos a noção da diferença entre casa e trabalho. Não é porque a pessoa está em casa que ela deve estar disponível o tempo todo.”
Para impedir isso, foram feitos alguns combinados: nada de WhatsApp como ferramenta de trabalho. A ferramenta de comunicação adotada é o Slack. É por meio desse aplicativo que a turma avisa quando está online, se saiu para almoçar e, no final dia, quando encerra o expediente.
ESCOLHENDO O HUMOR PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS
Foi durante seu processo pessoal de adaptação ao home office (e suas reuniões por Zoom) que Piccini teve a sacada que o tornou conhecido em toda a empresa. “Em meados de março, tivemos uma reunião regular convocada por um dos nossos fundadores, o Arthur Lazarte, e mais umas 12 pessoas. Algumas pareciam um pouco sem jeito com a ferramenta, com a casa meio bagunçada aparecendo ao fundo. Eu mesmo demorei a achar um canto onde pudesse fazer a reunião sem chamar tanto a atenção para o que estava atrás de mim”, recorda.
Foi nessa hora que ele se lembrou da função do Zoom de incluir fundos dinâmicos. “Optei pela imagem de uma sala de estar com quadros de uma quadra de tênis. Alguns se confundiram e acreditaram que era mesmo a minha casa! Outros até comentaram: ‘Piccini é tão fã de Tennis Clash que tem quadros temáticos em casa!'”, conta.
No encontro seguinte, a turma se surpreendeu ainda mais. Vestido com o uniforme do Palmeiras, seu time do coração, Piccini apareceu na tela com a imagem de uma arquibancada cheia logo atrás dele. Os colegas gargalharam! Outros brincaram: “E o isolamento, cara?”. Desde então, todo mundo passou a aguardar com ansiedade as novas performances. Não foram poucas as brincadeiras, que ficaram cada vez mais elaboradas, exigindo soluções criativas.
Em uma reunião que contava com a participação do apresentador Tiago Leifert, convidado pela Wildlife para entrevistar os fundadores e contar sobre a sua paixão por games, Piccini (sem saber da presença ilustre) surpreendeu ao surgir na Grécia Antiga, com uma toalha branca servido de toga. Ele também já esteve no fundo do mar, vestido de Nemo, da animação clássica dos estúdios Pixar, e até em uma das arenas do sinistro Mortal Kombat, caracterizado como o lutador Sub-Zero. “Para reproduzir o traje dele, coloquei uma máscara azul e uma calça jeans sobre os ombros. Funcionou!”, conta. Até seu cachorro, Merlot, já participou das brincadeiras, aparecendo vestido de Pikachu.
DE REPENTE, NASCE UM MEME
Um dos pontos altos das muitas encarnações de Piccini foi durante uma reunião que reuniu toda a empresa. Quando ele surgiu na tela, todos se surpreenderam ao ver uma cena que se repete diariamente nas casas de milhões de brasileiros: Piccini estava na bancada do Jornal Nacional, da rede Globo. “Vesti o terno, ajeitei o cabelo e apliquei o fundo do JN. Ao final da reunião, o Victor Lazarte [CEO da Wildlife] pediu que eu desse um ‘boa noite’ ao estilo William Bonner para os colegas”, conta. O sucesso foi tanto que ele conta ter recebido de amigos no WhatsApp fotos da sua performance, com a mensagem: “olha o que um cara da minha empresa fez!”. Esses amigos não eram colegas da Wildlife. Piccini tinha virado meme!
Engenheiro de produção formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Piccini reconhece, aos 28 anos, que o humor sempre fez parte da sua personalidade. Além de ajudar na rotina de trabalho, hoje focada no Tennis Clash, sua aptidão por resolver problemas foi colocada em prática para sair de enrascadas em suas aparições divertidas no Zoom.
“Me lembro de uma vez que apliquei bastante gel no cabelo, fiz um penteado moicano e coloquei no fundo uma imagem da banda punk rock Against Me!. Só teve um problema: meu penteado não aparecia no Zoom. Tive que agir rápido, mudei o cabelo para uma franja tipo emo e troquei o fundo para uma foto da banda Simple Plan”, conta, aos risos.
MENTE SÃ E CORPO SÃO
O período de isolamento social traz dificuldades não apenas para o desempenho profissional, mas também exige uma série de medidas para manter o corpo saudável e a mente serena. Mesmo com as brincadeiras inventivas no Zoom, Piccini reconhece que a ferramenta não substitui o encontro presencial.
“É do que sinto mais falta. Pessoalmente, temos uma comunicação não-verbal que é muito reveladora, especialmente para quem faz gestão de pessoas. Já aconteceu de notar um colega cabisbaixo no escritório e chamar para conversar, oferecer ajuda. À distância, esse tipo de auxílio fica um pouco mais difícil.”
Nesse sentido, Piccini reforça a importância de manter alguns rituais da equipe, mesmo aqueles que não têm ligação direta com o trabalho. “Na Wildlife, às 16h, era o momento do café com pão de queijo. Em casa, tento manter esse ritual. Preparo um café, ligo para alguém nesse horário e falamos amenidades. Isso conserva as relações.”
Piccini revela sua identificação com um dos valores da Wildlife em especial: “We care for each other” (em português, “Nós cuidamos uns dos outros”). “Trabalhar com alegria, mesmo em um período de adversidades como o atual, é importante. Uma coisa que gosto na posição de Product Manager é atuar como um ‘cheerleader’, levantando a moral do time. Além da parte humana, isso é bom para o projeto, pois as pessoas ficam mais motivadas”, detalha.
Paralelamente aos cuidados com a cabeça, Piccini ressalta a importância de praticar exercícios físicos e comer bem. Ao final do dia, ele e a esposa, Vanessa, praticam pilates com uma coach online e depois cozinham o jantar juntos. Vídeos postados por colegas no Slack também trazem dicas valiosas sobre preparo de alimentos, cuidado com o corpo e outros temas.
CUIDANDO DAS PESSOAS
Quando optou por colocar seu time em home office, a Wildlife teve que agir rápido para adaptar seu modo de trabalho e garantir o conforto dos seus profissionais. Para os que quiseram, a empresa transportou as cadeiras dos escritórios para suas casas. Artistas receberam seus monitores e tablets de desenho gráfico. Piccini organizou seu espaço em casa com objetos que trouxe da sua mesa na Wildlife. Ele acredita que é fundamental criar no lar um ambiente que identifiquemos como espaço de trabalho, pois ajuda a delimitar as duas realidades.
“Logo na primeira semana de isolamento social, o Victor [Lazarte] nos enviou um e-mail perguntando como a empresa poderia ajudar o seu time e também a sociedade. Para esse segundo público, sugeri a doação de máscaras ao Hospital das Clínicas, que é onde minha esposa trabalha”. Em resposta, a Wildlife anunciou a doação de 1 milhão de máscaras ao hospital por meio da ação Tech For Good, junto a outras empresas de tecnologia. “Foi incrível. Com esse tipo de suporte, acredito que todos podem buscar formas de trabalhar com mais leveza e, claro, bom humor”, diz.