Wilders

Trabalhar com games é ser um jogador com olhar crítico

ago 11, 2020 8 MIN LEITURA Vivi Werneck

Alexander Roque, Game Designer na Wildlife, acredita que jogos de celular precisam ser simples, mas ao mesmo tempo profundos.


 

Na indústria dos games, a profissão de Game Designer quase sempre traz histórias curiosas de profissionais que se apaixonaram pelo ofício de fazer jogos. Alexander Roque, que trabalha na área há um ano e nove meses na Wildlife (sede de São Paulo), é engenheiro mecatrônico por formação, por exemplo, e apesar de ser um jovem gamer, estreou no mercado de trabalho fazendo máquinas de sorvete.

Seu foco mudou quando começou a estudar Inteligência Artificial. Em um período de três meses, entre o trabalho na antiga empresa e os estudos de IA, Alexander acabou fazendo um jogo, que se tornou a sua porta de entrada para a Wildlife. “Mostrei meu jogo para uma pessoa que já trabalhava aqui. Eu imaginei que eu poderia passar por um processo de publishing para que a empresa lançasse o meu jogo, mas no meio desse processo acabei sendo contratado.”

ANTES DE SER GAME DESIGNER, SEJA GAMER

Alexander, que é o Game Designer mais antigo da Wildlife, afirma que nunca havia estudado nada em específico dessa profissão antes, mas que sua bagagem de conhecimento de jogos (é gamer desde criança) e o incentivo para crescer como profissional, dado pela própria empresa, foram cruciais em sua nova carreira.

“Nós acreditamos que todo mundo aqui é Game Designer. Todas as pessoas estão pensando na experiência do jogador. Os profissionais da Wildlife são muito capacitados em várias coisas. Então, as pessoas que programam também entendem que precisam criar uma experiência legal com o game, por exemplo.”

Alexander joga desde criança e era “viciado” no seu querido Nintendo 64. “Na época, minha mãe brigava comigo para eu parar de jogar, o que é engraçado porque hoje ela diz ‘que bom que você jogou tanto’, porque eu trabalho com algo que gosto muito.”

Inclusive, a primeira ideia dele para um jogo foi quando tinha apenas oito anos. ˜Eu lembro até hoje: ‘Yoshis in Black’! Pensei num game em que vários Yoshis [personagem emblemático do universo Nintendo], em ternos e com óculos escuros, defendiam o mundo de alienígenas. Desde criança eu tinha umas ideias malucas.”

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Além dos clássicos da Nintendo, Alexander se diz um grande fã de Warcraft 3, especialmente por conta do editor de mapas, que permitia criar seus próprios níveis e compartilhar com a comunidade.

“Devo jogar uns seis jogos de celular por semana. Como exercício mesmo, para me ajudar a criar. Sobre estilos, o que me define mais como gamer é RPG, mas não apenas RPG de celular, eu curtia demais MMOs também. Hoje em dia gosto muito de MOBA de celular, que tem um lado RPG.”

DESCOMPRESSÃO E TROCA DE IDEIAS NO “3 DA SEMANA”

Além de trabalhar como Game Designer, Alexander também organiza um dos eventos mais tradicionais da Wildlife: o 3 da Semana, um momento de confraternização e debates acalorados sobre jogos aberto a qualquer pessoa da empresa. O encontro acontece todas às terças-feiras, desde março de 2012.

Apesar de não ser o criador do 3 da Semana, Alexander é reconhecido pela dedicação ao evento, e explica que o significado desse momento de descontração é passado a todos que chegam. “O 3 da Semana surgiu a partir de uma iniciativa do Victor Lazarte (CEO e cofundador da Wildlife). Ele percebeu que as pessoas estavam sempre falando e compartilhando sobre jogos, e teve a ideia de juntar todos em uma noite para conversar sobre o assunto.”

A estrutura inicial do 3 da Semana era mais simples, até por conta de um número menor de pessoas na empresa. Cada Wilder apresentava três jogos que havia jogado em um minuto. “Isso era numa época em que os jogos de celular eram mais simples. Então, às vezes você conseguia mesmo falar tudo o que precisava em um minuto.” Mas então o evento começou a crescer, então além dos games, a comida também virou parte essencial do encontro. Alexander conta que, “como a empresa era pequena na época, uma pessoa pedia o lanche e daí falava-se sobre jogos enquanto todos comiam. Era uma forma descontraída de compartilhar ideias e conhecer o mercado.”

Quando Alexander finalmente chegou na empresa, o modelo já havia evoluído. Com o crescimento da equipe, começou a ficar complicado cada uma das 70 pessoas fazer sua própria apresentação. “Para organizar melhor, toda terça-feira recebíamos um e-mail com um formulário para preencher o que queríamos comer (pizza é o prato clássico do 3 da Semana). Depois era só subir no palco e se apresentar, e aproveitar a noite.”

“Uma coisa muito legal do 3 da Semana é que todo mundo divide o prato. Você sempre acaba conhecendo melhor as pessoas porque está dividindo a sua comida. As outras pessoas vêm conversar sobre os jogos que gostam e ouve os seus preferidos também.”

Alexander diz que no 3 da Semana os jogos mobile são as grandes estrelas dos debates, mas nada impede que outros games (de outras plataformas) também sejam levados para o palco. Palco mesmo, já que o evento acontece no auditório da Wildlife.

Por enquanto, em tempos de pandemia, algumas adaptações precisaram ser feitas tanto na rotina de trabalho das equipes quanto no próprio 3 da Semana, a fim de garantir a segurança de todos. Então o evento continua acontecendo, mas em formato online.

“Não é a mesma coisa, é claro. Uma coisa é estar num auditório e outra numa janelinha do Zoom. O que continuamos a fazer é deixar uns cinco minutinhos no começo para trocar uma ideia livre, para justamente ter alguma confraternização”, lamenta. Mas ele garante, no entanto, que os debates continuam intensos, mesmo no ambiente virtual.

A PAIXÃO POR JOGOS MOBILE

Sobre sua experiência na Wildlife, Alexander afirma que a empresa tem um olhar bem interessante para o mercado mobile, que é gigantesco.

“Nós temos uma forma de trabalhar que equilibra bem o lógico (observar muitos dados) e a inovação. É um balanço muito bom e acredito que seja este o segredo do sucesso da Wildlife: inovar com pesquisa.”

O Game Designer diz ter um carinho especial por um jogo desenvolvido num dos hackathons organizados pela Wildlife (que acontecem a cada três meses). “Esse é um game que vai juntar um pouco de MOBA com um pouco de um jogo chamado Archero”, explica Alexander, que já participou de seis hackathons desde que entrou na empresa.

Lançar um game é sempre momento de muita apreensão e é preciso deixar tudo o mais polido possível. Para Alexander, o lançamento chega quando a equipe sente que “não dá mais para segurar o jogo”, porque ele precisa ir para as mãos dos jogadores. Mesmo assim, tudo é feito dentro do planejado. “Nós precisamos de datas específicas, combinadas meses antes, para garantir que tudo fique pronto. A ideia é fazermos tudo o que pudermos até esta data, porque precisamos ter essa noção de tempo.”

Quando a hora finalmente chega, o esforço e correria valem a pena. “É incrível! Eu já vi alguns meninos jogando o Zooba uma vez, e foi um momento muito gratificante para mim. Achei incrível, porque eu ajudei a criar aquela felicidade. Foi parte do meu trabalho.'”

Esses momentos de felicidade são resultado de trabalho duro e do entendimento do que faz um jogo ser marcante.

“Os jogos de celular têm uma característica bem interessante: eles precisam ser simples, mas ao mesmo tempo profundos. O que se busca é uma interação simples, mas que crie uma profundidade enorme. A profundidade, nos games mobile, é bem mais atrativa que a complexidade.”

DICAS DE OURO PARA QUEM COMEÇAR A FAZER JOGOS

A primeira dica, segundo Alexander, para quem pensa em trabalhar fazendo jogos é jogar muito. “Jogue tudo que puder e com olhar crítico.” Ele explica que mesmo não gostando de um jogo é preciso tentar entender porque tal game não funcionou para você, e porque outras pessoas gostam dele.

O segundo conselho é… fazer jogos! “Busque por ferramentas grátis, hackathons e game jams para participar. Esses eventos também ajudam a encontrar outras pessoas que estão fazendo games para trocar experiências.”

Mas por onde começar? Para Alexander, você não precisa, necessariamente, de um software para começar a fazer um jogo. “É possível, por exemplo, pegar um papel, recortar umas cartinhas e começar por aí. Não importa o grau de complexidade, pode começar pequeno”, explica. “Se está se divertindo e outra pessoa está gostando da mecânica que criou, parabéns! Você fez um jogo! Agora é só começar a evoluir a partir daí.”

Wilders ago 11, 2020 Vivi Werneck